Labeling Tronic #003 – Entrevista com Christian Smith

Publicado 18 de setembro de 2017 | Por Rafael Bado | Colunas, Entrevistas, Labeling, News

Chegou a hora de finalizarmos nossa edição da Tronic, mas antes disso nada melhor que uma entrevista e um set exclusivo com o próprio dono e mente por trás do selo, Christian Smith!

O produtor sueco sempre foi envolvido com a música, discotecando desde os seus 14 anos de idade. Como muitas das pessoas que tem o sonho de viver com isso, o artista começou sua carreira como um hobby, relembrando os dias em que cursava economia na faculdade e lançava algumas tracks por gravadoras ao redor do mundo, que logo atraíram a atenção de nomes como Carl Cox e Deep Dish (Dubfire b2b Sharam).

Com as conquistas de grandes suportes, Smith decidiu abrir a própria gravadora, a Tronic Music, uma label que tinha com identidade músicas que pudessem ser tocadas em sets tanto de house quanto de Techno. Para se ter uma ideia, na época do lançamento da label, em 1994, nem sequer se falava em algo próximo do tech house atual, fazendo com que a própria distribuidora tenha duvidado do potencial da gravadora, que hoje é considerada a 3ª record label que mais vende música no gênero Techno pelo Beatport.

Os releases e a popularidade começaram a render para Smith algumas datas ao redor da Australia e do Brasil, fazendo com que o DJ começasse a sentir que estava na hora de largar tudo e se dedicar integralmente para seu sonho e viver da música.

Em 2008 o produtor teve um de seus grandes booms lançados, a track Total Departure que saiu pela Drumcode, gravadora da lenda Adam Bayer, com um remix do projeto paralelo de Eric Prydz onde o artista trabalha uma linha mais dark, Cirez D.


O release foi tão significativo, que em 2015 teve um relaunch pela própria Tronic, contando com um remake de Christian Smith e um remix de Wehbba, artista que falamos anteriormente na nossa coluna e que você pode acompanhar aqui. O produtor inclusive morou alguns anos em São Paulo, o que explica sua forte ligação com o Brasil, porém acabou se mudando devido as grandes dificuldades de fazer tours devido aos altos custos de logística.

Não podemos deixar de mencionar também a track “House this House”, que foi lançada pela sublabel de Richie Hawtin, PLUS8, em 2012 e se consagrou best seller do ano pela label. No mesmo ano o produtor tentou lançar outra track com Hawtin, dessa vez pela M_nus, porém teve sua track recusada pela gravadora e decidiu lançar pela própria Tronic. A track “Get it Done” logo atingiu top #1 geral do beatport em vendas e Hawtin entrou em contato com Christian Smith por e-mail dizendo “Ninguém é perfeito”.

Ano passado o artista teve mais de 120 gigs, passando por 30 países diferentes e mostrando ser uma das maiores forças do Techno mundial atualmente. Seu ultimo álbum chamado Input-Output [Tronic] possuí 11 faixas e foi lançado a 10 meses atrás. Recentemente algumas faixas do álbum ganharam uma versão remixada por nomes como Laurent Garnier, Pig&Dan, Shaded e Drunken Kong.


Christian, é uma honra ter a oportunidade de entrevistar você e falar um pouco mais sobre a Tronic, compartilhando o trabalho de vocês com os nossos leitores. Para começar, você pode nos contar um pouco mais sobre o início da Tronic? A quanto tempo a label existe, quais foram seus primeiros pensamentos ao iniciar a gravadora e como o seu time de A&R teve influencia dentro da label para vocês serem o sucesso que são atualmente?

A gravadora está rodando por mais de 20 anos agora e estou muito orgulhoso de dizer que somos uma das labels que mais vende Techno no mundo. A Tronic na verdade não é a primeira label que eu iniciei, pois tive alguns outros projetos que acabaram não dando certo. Todos serviram de aprendizado para a gente transformar a Tronic no sucesso que é hoje em dia. Eu tenho um time incrível do meu lado, em especial minha label manager, que eu não consigo viver sem.

Ter uma gravadora não é sobre ter dinheiro, ninguém que toca ou é dono de uma gravadora vai te dizer isso, mas é preciso muita paixão e trabalho pesado para tirar ela do chão e nem sempre ela será um sucesso. É realmente muito bom ter seu próprio selo onde você pode lançar as coisas que você gosta e controlar o que você quer lançar de outros artistas. Eu gosto muito de música e dentro da Tronic, nós tentamos não nos prendemos a nenhum tipo específico de som. Se nós gostamos de tocar, então funciona para mim. Ter uma gravadora sem dúvidas é um trabalho de amor.

É sempre muito bom ver artistas brasileiros lançando em gravadoras como a Tronic. Como você sabe, nós também estamos apresentando o Wehbba e o Victor Ruiz na coluna, o que torna tudo mais excitante para nós por mostrarmos nossos artistas locais junto com você. Você costumava viver no Brasil a algum tempo atras certo? Essa foi a maneira que você acabou tendo um relacionamento com eles? Conta pra gente um pouco mais do período que você viveu por aqui e como isso mudou ou inspirou o direcionamento da sua carreira? Quem foi o primeiro artista brasileiro na Tronic?

Eu vivi em São Paulo durante 2008 até 2012. Eu costumava fazer várias tours por aí antes da cena ficar mais comercial. A primeira vez que toquei no Brasil foi em 1999, num club chamado Aloca em São Paulo. Tempos insanos! Na época aconteciam várias raves ilegais open air, e o Techno era o principal gênero na maioria dos clubes. Eu também toquei na D-Edge em Campo Grande muito tempo antes do Renato Ratier abrir a franquia de São Paulo.

Eu estive no Brasil diversas vezes durante os anos, conhecendo o Wehbba a mais ou menos 10 anos atrás. Nós nos tornamos amigos próximos e fizemos várias músicas juntos. Ele também foi meu engenheiro de áudio nos últimos anos. Eu aprendi muito trabalhando com ele e nós ainda trabalhamos juntos em tracks colaborativas de tempos em tempos.

Eu conheci o Victor Ruiz a alguns anos atrás, quando fiz uma festa da Tronic no sul do Brasil. Ele é um cara muito gente boa e tem um futuro brilhante pela frente. Sou muito feliz em considerar ambos meus bons amigos!

Nós sentimos sua falta aqui pelo Brasil. Acho que a última vez que você esteve por aqui foi em 2013 né? Nós adoraríamos saber um pouco sobre as noites da Tronic e se você tem algum plano de vir para o Brasil em algum futuro próximo.

Sim, foi a algum tempo atrás mesmo. Mas eu espero estar de volta logo. Eu adoro vir para a America do Sul, especialmente para o Brasil. Quanto as noites da Tronic, nós estamos expandindo muito nossos showcases esse ano. A ideia é simples: Ter alguns artistas das Tronic tocando junto, se divertido juntos, enquanto espalhamos e fortalecemos a marca globalmente. Nós começamos com a festa no OFF Sonar, e desde então tivemos festas incríveis em lugares como o Ultra Resistance no Privilege Ibiza. Estamos preparando mais coisas boas pro ADE e também para a Alemanha, então eu posso dizer que as coisas parecem estar começando a fluir.

Os Tronic Podcasts são demais! Nós constantemente vemos diversos artistas fantásticos lançando set pelo canal de vocês. A quanto tempo você faz isso? Tu tem algum tipo de “residente” no show? E como você seleciona os artistas a cada semana?

Nossa, faz algum tempo já em! Nós já tivemos mais de 250 sets lançados, o que é uma loucura. Atualmente nós passamos o show em mais de 110 estações de radio em mais de 20 países diferentes. Nós temos uma gama de artistas imensa, que não precisam estar necessariamente associados a Tronic, então nós não temos nenhum residente no show(com exceção de mim é claro). Acredito que isso limita a diversidade dos podcasts. Eu costumo fazer o podcast e soltar de tempos em tempos, porque para mim é importante que o dono da label contribua para esse projeto.

 

Você originalmente é da Suiça, mas logo já se mudou para a Alemanha certo? Você considera que esses países contribuíram e influenciaram a musicalidade que você transmite hoje em dia? E como que é a cena na suíça – Você pode nos contar aonde podemos achar alguns bons clubs e festivais no país?

 

A minha maior influencia é a musica Americana do início dos anos 80. A antiga disco music, o início do electro e alguma coisa do começo do house também me influenciaram muito. A Suiça não tem uma cena muito forte. Mesmo tendo vários talentos saindo da suíça, tem muitos poucos promoters de evento que bookam artistas underground.

Eu atualmente moro na Espanha, que é totalmente o oposto. Países latinos tem muita energia e eu adoro morar neles! Falando sobre festivais, eu com certeza recomendaria que você fosse no Sonar em Junho em Barcelona. Além de ser um grande festival , há mais de 100 festas paralelas acontecendo ao redor da cidade ao mesmo tempo. Eu faço festas da Tronic lá todo ano e nós sempre aproveitamos e curtimos muito.

Nós gostamos do seu set do festival Lightening In A Bottle. Ele parece ser anunciado e promovido como uma pequena versão do Burnin Man né? Como foi sua experiência la? Você pretende ter mais datas ao redor dos EUA nesse tipo de festival alternativo? Tu acha que o Lightening In A Bottle é um festival que veio pra ficar?

Sim, eu realmente aproveitei muito todas as minhas datas nos EUA. As coisas parecem estar começando a dar certo por lá, muitos fãs sendo expostos a novos tipos de música eletrônica, que nem sempre é EDM. O LIB foi um festival realmente especial, eu amei a vibe hippie que ele tem, os palcos são sensacionais, o som é absurdo, o público é animado e a produção está de parabéns. Sério, adoraria voltar lá no ano que vem, eu ainda toquei com alguns amigos por lá durante o festival, então isso foi um bônus durante o evento. Eu acho que sem dúvidas é um festival que veio pra ficar. O Burning Man é o irmão mais velho, mas nem todo mundo tem acesso a ele, porque além da viagem ser muito cara, ele acontece no meio do nada então é muito importante que tenhamos alternativas para todo mundo poder aproveitar esse tipo de evento.

Olhando um pouco da sua história – quais foram os releases que você considera que marcaram sua carreira? Podem ser tanto da Tronic quanto de fora dela.

Eu fiquei muito orgulhoso do remix que eu fiz pro Carl Craig na track “At Les” lançada pela Tronic. Eu também gostei muito do release que soltei junto com o John Selway chamado Total Departure pela Drumcode. Minha estreia na Intec do Carl Cox também foi muito marcante, e sem dúvidas eu posso dizer que houveram e haverão muitos momentos sensacionais na minha carreira como produtor!

A Tronic é conhecida por ser uma label de LP/Albuns, e você tem o seu novo LP “Synergy” saindo mais tarde em outubro certo? Para você, qual é a principal diferença no processo criativo entre fazer um EP e um álbum ?

Esse é um álbum muito diferente para mim, porque ele é inteiro feito de tracks colaborativas com outros artistas. Meus últimos 3 albuns foram inteiro projetos solo, então eu quis fazer algo diferente e novo, junto com alguns dos artistas que eu tenho seguido e curtido ultimamente, além de grandes velhos amigos como Harry Homero e John Selway.

Eu amo produzir um álbum. Você pode criar uma seleção de tracks que não necessariamente vão dar certo numa pista de dança, e esse é o principal motivo que eu acho que é importantíssimo para um artista passar pela experiência de criar um álbum e expandir sua criatividade. Você precisa de uma variedade de sons e texturas para todas as tracks que irão contar uma história, enquanto você guia seu ouvinte pelo álbum, e não só um monte de track bomba pista sem sentido, porque isso não mostra que você é capaz de balancear suas músicas num álbum.

Por ultimo, você pode nos falar algumas músicas lançadas na Tronic que estão na sua top list atualmente? Também gostaríamos que você nos falasse de alguns artistas que nós talvez não tenhamos escutado sobre ainda, mas que irão estar lançando na gravadora no próximo ano.

O Kaiserdisco acabou de nos entregar um álbum incrível que sairá pela Tronic no dia 13 de novembro desse ano. O Victor Ruiz também está preparando um álbum para nós para 2018. Muitos álbuns e showcases da Tronic estão planejados para 2018.

Algumas músicas da Tronic que estão quentes e que eu acho que vocês deveriam dar uma olhada são:

Rob Hes – We Rise

Christian Smith & Harry Romero – Neon Jungle

Victor Ruiz & Drunken Kong – Inside Out

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