Marcelo Oriano comenta trabalhos favoritos de produtores de Dark Techno

Publicado 24 de setembro de 2020 | Por Marllon | News, Reviews

Produtor catarinense selecionou alguns lançamentos recentes para você ouvir 

Os lançamentos em 2020 tem mantido um ritmo acelerado com a pandemia, já que o tempo na estrada agora pode ser substituído por horas de imersão no estúdio. É difícil acompanhar os releases de todos os artistas que gostamos, dos diversos estilos que acompanhamos. 

Para dar uma mãozinha aos DJs e fãs de Techno — principalmente aqueles que preferem uma linha sonora mais potente e sombria — convidamos um produtor brasileiro que é referência quando o assunto é Dark Techno: Marcelo Oriano. Além do talento no estúdio, ele já mostrou sua identidade e avançada técnica de mixagem em cabines de prestígio como Sisyphos (Berlim), Pratersauna (Viena) e Magistrat (Haia).

CONNECT · Marcelo Oriano @ Disorder #109 – Brazil

Muito influenciado pela escola de artistas alemães, ele selecionou seus lançamentos favoritos do ano que seguem uma estética mais reta, com traços industriais, psicodélicos e ambientações obscuras:

Por Marcelo Oriano

Como vocês bem salientaram, o espaço nas agendas forçosamente aberto pela pandemia, acelerou muitos produtores ao redor do globo; porém, na maioria dos casos, somente em produtividade.

Ano passado, quando tive a oportunidade de fazer minha segunda turnê na Europa, observei que todos os artistas de Techno em alta no velho continente vinham subindo suas médias de BPMs em torno de 3 ou 4 beats, ou seja, os artistas que em geral tocavam e produziam na faixa dos 125 BPMs, estavam trabalhando perto dos 128. O pessoal dos 128 vinha passando dos 130 e a galera que já tocava 130+ estava se aventurando acima dos 135 BPM!

Tal tendência pode ter muitas explicações: a ascensão das produtoras belgas que, com o impulso de agências poderosas e um grande trabalho de mídia sobre suas imagens e gêneros musicais, criaram novos modismos; um retorno expressivo do gosto pela 303 (sintetizador da Roland, responsável pelo timbre característico do Acid), que agora está mais presente no Techno do que no House, clama por ritmos acelerados ao ser sequenciado em quatro notas entre os kicks; e ainda: a tendência mundial de sets mais curtos, provavelmente pelo número de apresentações em festivais superar o de clubes no verão europeu, trazendo a necessidade de mostrar o máximo de faixas em 1:30 ou 2:00 horas além de  já começar “no auge”.

Em 2020, porém… a coisa toda muda de figura. Sem festivais e nem mesmo clubes, o Techno passou a ser tocado para o grande público principalmente através de livestreams e plataformas de publicação digital. Esta mudança na forma como as pessoas consomem a música obviamente influencia muito as diretrizes estéticas do que é vendido, publicado e tocado pela maioria dos artistas. 

Agora que preparamos tracks e sets para serem ouvidos em soundsystems caseiros ou fones de ouvido, fora da ambientação/iluminação de clubes e para um público que muitas vezes vai nos ouvir sentados enquanto faz outras atividades, estamos buscando músicas com menos foco no subgrave (que não traduz bem em fones e caixas simples), mais hipnóticas, “viajantes”, com baterias mais complexas, ligeiramente mais lentas (ou não, rs) e demais características que tornem a experiência de ouvir Dark Techno em casa (ainda) mais agradável.

Marcelo Oriano na Trip To Deep [Foto por Raphael Zulianello]

Já com base nessa mudança recente de predileções, gostaria de comentar com vocês os seguintes trabalhos que me chamaram a atenção:

Ian Axide – Spherical

O LP de 10 faixas, lançado em julho pela Emphatic Records está repleto de obras que venho ouvindo e tocando nessa quarentena. Por ser um álbum extenso, obviamente possui  trabalhos focados nos  mais variados “moods”, mas sua essência comum está nas baterias industrializadas e pads horripilantes de nota única que são marcantes do autor.

DaniDuran – Opposite Sensations

O EP lançado em Abril e, por tanto, logo no começo da pandemia, provavelmente foi produzido bem antes de entrarmos na rotina da quarentena. Ainda sim, escolhi esse trabalho para a lista por ser uma seleção de cinco obras fenomenais do jovem artista espanhol que, mesmo com os BPM’s bem altos, estão totalmente dentro da estética que mais têm me interessado nessa fase “home techno”: Kicks bem marcados, que não dependem só de subgrave para se fazerem grandes; arpeggios em poliritmo, repletos de delays e texturas não-estáticas sustentando interesse nos elementos mais hipnóticos da música e ainda, ambientações sombrias, espaciais e cheias de movimento.

JC Laurent – Rise Down

Eu, que de alguma forma também era “vítima” da necessidade de tocar no auge a maioria dos meus sets antes da pandemia, nem sempre encontrava boas oportunidades para expressar na pista o meu amor pelo Break Techno. Esse EP de cinco obras, conta com apenas uma no estilo “four on the floor”, sendo as demais belíssimos exemplos de grooves alternativos e interessantes de se apreciar fora da pegada frenética dark/industrial comumente tocada nos festivais.

Temudo – Chemical, Clinical

Eu sou um grande fã da cena de produtores portugueses, mas conheci Temudo não pela nacionalidade e sim após ver seu nome em diversos EP’s e VA’s de grandes gravadoras como SOMA, UTCH e Planet Rythm. Seja remixando ou compondo obras 100% autorais, a linha industrial seguida pelo artista é extremamente autêntica, e nos mostra que este sub-gênero não depende só de peso “cru” nos grooves para ser interessante, quando na verdade pode revelar suas nuances nas texturas repletas de movimento, samples e synths muito bem processados que são a marca registrada do artista.
Neste EP eu, particularmente, achei as duas faixas originais mais adequadas à este momento sem clubes em que estamos apreciando a música, porém tocaria qualquer uma das seis em uma boa pista!

Vegim, Flekitza – Isolated State

O casal de Kosovo lançou o meu EP preferido deste ano até aqui! São seis tracks, sendo uma intro, carregadas de psicodelia, padrões hipnóticos, síntese granular, ambientações macabras e baterias “por todo o lado”, num conjunto que merece elogios também pela mixagem enorme e cheia de pressão. Uma belíssima obra de arte.

Espero que todos possam encontrar também algo para seus cases nesse momento em que estamos todos nos reinventando enquanto artistas! Muito obrigado pelo espaço.

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